sábado, 9 de maio de 2009

Reflexão crítica sobre os REA: potencialidades, oportunidades, riscos e desafios mais significativos

O uso da tecnologia no ensino é, actualmente, uma realidade incontornável e de inexequível retrocesso. Não saindo em defesa do determinismo tecnológico, mas, antes, da corrente accionalista, concordamos com Siemens e Tittenberg (2009: 53) quando afirmam que o maior desafio para os líderes e administradores da Academia é, precisamente, redefinir o seu papel (da academia) no mundo em constante mudança e em hiper-conectividade. Mas não compete apenas a estes o papel de combater em favor da proliferação de Recursos Educacionais Abertos (REA); os coordenadores de departamentos científicos, professores, assistentes e, também, os alunos, desempenham um papel fundamental na transformação do ensino tradicional (face-a-face; presencial) para um ensino com um futuro ainda não totalmente definido... Porquê ainda não totalmente definido? Porque as possibilidades dos REA são tantas que dizer “esta é a ferramenta a usar”, ou “as aulas de cada unidade curricular deverão ser preparadas para um sistema de buffett”, ou mesmo “agora as aulas serão totalmente virtuais! Os alunos nem têm que vir à faculdade!” não só se nos apresenta como um cenário duvidoso, do ponto de vista, sobretudo, da retenção de conhecimentos, como uma banalização, no pior sentido, daquilo que deve ser a academia: um lugar para aprender, cooperando! A este propósito retivemos, aliás, uma mensagem que nos foi marcante ao longo desta pesquisa, do OER Commons – Open Educational Resources: «Learning is Sharing»! Nem mais!
As próprias teorias do capital humano desenvolveram esta noção de partilha: o valor potencial do capital humano só pode ser realizado, não apenas na decorrência da sua existência, mas caso haja cooperação das pessoas, i.e., sem partilha do Saber não se gera Conhecimento! E esta é uma ideia que perpassa todo um conjunto de sociólogos e interessados nestas matérias, desde
Alain Touraine (que considera que a educação é o instrumento viabilizador do conhecimento, sendo este último o actual factor gerador de riqueza), Daniell Bell (relevando o papel da informação, mas considerando a expressão Sociedade pós-industrial um conceito mais abrangente para caracterizar as transformações decorrentes da Sociedade Industrial), Alvin Toffler (e a sua famosa Teoria das Vagas salienta, entre outras característica da sociedade da 3.ª vaga a utilização de uma base tecnológica mais diversificada), Manuel Castells (e o conceito de Sociedade em Rede, ou Network Society, releva a ideia que as redes constituem a nova morfologia social das nossas sociedades), passando por John Naisbitt (do qual destaco a seguinte frase sobre o que considera ser a Sociedade da Informação: uma combinação de «high tech and high touch, matching each new innovative technology with a compensatory human response») e Frank Webster (para quem a Sociedade da Informação é «a society in which the creation, distribution, diffusion, use, integration and manipulation of information has a significant economic, political, and cultural activity. The knowledge economy is its economic counterpart whereby wealth is created through the economic exploitation of understanding»), e no âmbito mais específico na UE – União Europeia, o Livro Verde para a Sociedade da Informação.
Antecipadamente, declaramo-nos “fãs” dos REA, ou seja, nesta reflexão das potencialidades, oportunidades, riscos e desafios mais significativos, já “comprámos” a ideia, pelo que a reflexão sai, à partida, enviesada… Mas procuremos ser o mais imparcial possível, agora que nos revelámos à “turma” do FIEL01 e ao nosso formador José Mota.
Desde inícios do novo Milénio, o interesse pelos REA tem vindo a influenciar a consciência pública de políticos, administradores, académicos e professores, em grande parte devido ao dealbar da nova geração da World Wide Web: a
Web 2.0. Sem entrarmos em grandes especificações, pode afirmar-se que a Web 2.0 começou com o desenvolvimento de uma ferramenta associada ao motor de busca Google, o Gmail. Aliás, as ferramentas disponibilizadas pela Google foram as primeiras ferramentas associadas à Web 2.0, representado assim, o padrão a seguir no desenvolvimento desta nova geração. O Gmail veio provar que é possível utilizar aplicações informáticas através de um browser, o que liberta o utilizador final da obrigação de adquirir (ou pior, da necessidade de piratear) software específico para as suas necessidades. Assim, o utilizador passou a ser livre de escolher não só o seu sistema operativo, como também as aplicações que pretende usar. Para além disso a Web 2.0 oferece, dado estar baseada numa lógica de cooperação e oferta de conteúdos multi-plataformas, todo um processo que está agora aberto à lógica de comunidades que congregam quer profissionais do sector, quer simples utilizadores, o que contribui para minimizar tempos de produção e maximizar a capacidade de resposta. A preparação para o desfio colocado pela Web 2.0 passa pelo aproveitamento da inteligência colectiva dos utilizadores com o objectivo de mais facilmente percepcionar e suprir as suas necessidades. Todo o processo funciona numa lógica “criação rápida, desenvolvimento simples, publicação imediata”. Mais ainda, dado que o desenvolvimento da Web 2.0 está assente num conjunto de ferramentas de fácil utilização, largamente disseminadas, tudo está aberto à colaboração por parte de qualquer elemento da comunidade. Isto implica que, mais do que nunca, o utilizador detém o poder e é a sua experiência e grau de satisfação que realmente interessam, o que vem aumentar a necessidade de avaliação efectiva do seu índice de satisfação. A importância reconhecida à Web 2.0 está, aliás, bem expressa no Relatório da Conferência de Sevilha, realizado em 29-30 de Outubro de 2008, sob o título «Learning 2.0: The Impact of Web 2.0 Innovation on Education and Training in Europe».
Mas, afinal, o que são os REA? Qual é o seu papel na Academia, no ensino em geral? Um meio para um fim, ou um fim em si mesmo?... Confessamo-nos mais adeptas da primeira opção. Em todo o caso, porque o rigor se impõe, deixamos algumas definições, apesar de, como refere
Ilkka Tuomi, a definição de um conceito depende da sua utilização e da comunidade que usa o conceito, todavia, torna-se necessária sempre que diferentes actores trabalham conjuntamente (Tuomi: 2006: 35-36) - como nós, no FIEL01:
«
Open educational resources are open resources that are also resources for learning. (…) We can define open educational resources as:
Open educational resources are accumulated assets that
1) enable development of individual or social capabilities for understanding and acting
and
2) can be enjoyed without restricting the possibilities of others to enjoy them
and which either
3) provide non-discriminatory access to information and knowledge about the resource
4) generate services that can be enjoyed by anyone with sufficient non-discriminatory capabilities
5) can be contributed to by anyone, without restrictions that exceed the norms of open science
.» (Tuomi: 2006: 35)
Para além desta possível definição, julgamos relevante a apresentada por Siemens e Tittenberg (2009: 46):
«OERs are materials made freely available online for educators and learners to use, repurpose, and extend.» Ou seja, REA são mais do que "ferramentas de aprendizagem" ao dispor da comunidade académica. Poderíamos, até, questionar o seu valor (económico e pedagógico) sobretudo a partir das experiências do MIT, quando começaram a disponibilizar os seus materiais de aprendizagem, de forma livre, mas, tal como proliferado pelas teorias do capital humano a importância acrescida do ser humano como utilizador e fonte de capital, relativamente aos outros recursos, valoriza a capacidade de associação e as suas consequências sinérgicas, as quais dizem depender do modo como a comunidade partilha normas e valores e é capaz de subordinar os interesses individuais aos do grupo.

E porque (uma vez mais) o texto já vai longo, quanto às potencialidades dos REA são imensas! Para além da multiplicidade de escolha (wikis, vídeos, blogs, social networking software - como o Diigo ou o Delicious, image sharing - como o Flickr, partilha de power points - como o SlideShare, partilha de documentos em PDF - como o Scribd, etc., etc., etc.), há que saber selecionar a melhor opção, em função dos objectivos, por exemplo, da unidade curricular, da sua integração no curricula do curso, dos grupos destinatários, dos recursos informáticos disponíveis... Mas há, também, potencialidades de maior dimensão: os REA têm o potencial para afectar os próprios processos de aprendizagem ao promoverem novas formas de colaboração, em particular pode destacar-se:

  • Alterar o foco do ensino para a aprendizagem, numa evolução desejável de "a escola é um local de ensino" para "a escola é um local para aprender" (na tal ideia de passagem de uma atitude passiva, de receptor, para uma atitude activa, de "construtor" do aprendizado);
  • Construir com base no conhecimento partilhado, criando verdadeiras comunidades de aprendizagem e prática;
  • Fornecer uma plataforma para interacção entre profissionais de todo o mundo, entre estes e os seus alunos, entre instituições universitárias;
  • Permitir aos estudantes gerar novos contextos de aprendizagem (e não apenas conteúdos), provando que a aprendizagem reflexiva transforma o próprio processo de ensino;
  • Identificar áreas que podem beneficiar de intervenções políticas no sentido do reforço dos ideias do Life Long Learning;
  • Cultivar a auto-aprendizagem, a aprendizagem cooperante e a autonomia (tanto dos indivíduos como das organizações, no sentido da responsabilização pelos resultados);
  • Suscitar novas formas de inclusão pela proliferação dos REA contribuindo para um verdadeiro espaço europeu de ensino (superior, mas não só);
  • Gerar estratégias que enalteçam a equidade e a inclusão pela facilidade de acesso à informação.

As oportunidades decorrem, em parte, das potencialidades já enunciadas. Claro que as apontadas encerram uma visão puramente optimista, sem dificuldades de concretização, mas todos sabemos que, por vezes, nem sempre os processos e as pessoas evoluem dessa forma desejável... Ainda assim, pensamos que os REA constituem a oportunidade para criar um 3.º espaço de aprendizagem. A escola e a casa são espaços de ensino; os REA criam o 3.º espaço, acessível onde, da forma e quando se quer! Os REA abolem as paredes das salas de aulas, removem barreiras geográficas, concorrem para a proliferação e partilha do Conhecimento, geram riqueza, por que, afinal, o Conhecimento é um bem público que deverá estar acessível a todos, sem excepção. Como antes dissemos, corremos o risco desta nossa reflexão sair enviesada pela adesão aos REA, mas cremos que esta é uma oportunidade real, de ser alcançável, com empenho, por certo, e muita determinação.

Claro que "não existe bela sem senão", e se as potencialidades e oportunidades podem ser enumeradas quase sem fim, existem, também, riscos, ou melhor obstáculos, associados à sua utilização e implementação:

  • A questão do reconhecimento das certificações obtidas através de formações puramente em ambientes virtuais é uma das "fragilidades" realçada por alguns documentos (ver referências bibliográficas);
  • Os direitos de propriedade intelectual em relação aos conteúdos pedagógicos disponíveis na Internet é outros dos "riscos" apontados (ainda que neste ponto hajam diferentes níveis de copyright, de acordo com a consulta aos diversos REA enunciados por Ilkka Tuomi (2006: 37-44);
  • O facto de haver desigualdades no acesso às tecnologias constitui um dos entraves à desejável inclusão antes aludida e pode, até, gerar novas formas de exclusão: nem todos são detentores das mesmas digital skills;
  • As tão afamadas dificuldades financeiras das instituições do ensino superior podem representar um obstáculo concreto ao investimento em hardware e, por conseguinte, inviabilizar o recurso às tecnologias open source (caricaturalmente, o Moodle não "funciona" se não houver PC's! operacionáveis);
  • As ferramentas de aprendizagem podem tornar-se "apenas" repositórios institucionais de recursos educacionais, em vez de ferramentas de aprendizagem livremente disponibilizados a toda a comunidade académica (veja-se, a título de exemplo, o caso da LionShare em que tem que se ter uma "test user account" para fazer o download dos materiais disponíveis e onde se levantam algumas restrições mesmo em relação ao material que se coloca para partilha)

Há, assim, ainda, um longo caminho a percorrer para se alcançar a verdadeira sustentabilidade dos REA. O futuro das universidade e dos futuros modelos de ensino devem, antes de mais, acompanhar a evolução da própria Sociedade: estamos em plena Sociedade da Informação e esse é um dos desafios mais significativos, ou seja, há que entender os REA não apenas como introdução de novas ferramentas, mas apostar na alteração deste "antigo" paradigma que constrange a academia a uma cultura (ainda) de um certo "imobilismo" e resistência à mudança. Como referiu Michael Wesch, no vídeo disponível na nossa página de curso, o professor tem que deixar de representar a "autoridade" e ganhar credibilidade e isso é atingível quando concretizamos a representação que fazemos dos alunos de "consumidores" (passivos) para "produ-sumidores" (actores intervenientes activos na construção do conteúdo do que se ensina). Claro que muitos nos podem apelidar de idealista, ou, até, irrealista, mas acreditamos que «Learning is Sharing» e que, perante os alunos, para ganharmos credibilidade, temos que não dizer (apenas) as respostas, mas, antes, inspirar boas perguntas!


Referências bibliográficas:

  • Ala-Mutka et al (2008) Learning 2.0: The Impact of Web2.0 Innovation on Education and Training in Europe. Disponível em http://ftp.jrc.es/EURdoc/JRC50704.pdf. Acesso em 30.Abril.2009
  • Siemens, George; Tittenberg, Peter (2009) Handbook of Emerging Technologies for Learning. Disponível em http://umanitoba.ca/learning_technologies/cetl/HETL.pdf. Acesso em 29.Abril.2009.
  • Tuomi, Ilkka (2006) Open Educational Resources:What thei are and why do they matter. Report prepared for the OECD. Disponível em http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?inpopup=true&id=109481. Acesso em 29.Abril.2009.
  • Ah! Não posso deixar de referir o valioso contributo do meu querido Amigo Dr. Amável Santos que gentilmente me disponibilizou as preciosas informações sobre a Web 2.0, retiradas na sua tese de mestrado e de algumas conversas ao fim do dia... Obrigada, Amável!!!

O meu "trabalho alternativo"...

Reflexão pessoal em torno das questões que orientaram as discussões no “Fórum de Discussão dos Casos” do «Program in Course Redesign»

Perante a oportunidade concedida de realizar esta actividade, em alternativa à participação activa (e atinente aos timings previstos para a Actividade 4), e o desafio de lutar para voltar à “corrida”, optámos por, em primeiro lugar, “ver” o que tinha acontecido no nosso “Fórum de Discussão dos Casos”. Em segundo lugar, procurámos organizar esta nossa reflexão respeitando as orientações dadas:

  • O que podemos aproveitar da experiência deste Programa;
  • Lições que podemos retirar;
  • Questões específicas dos nossos contextos com que teremos que lidar;
  • Soluções possíveis que esta reflexão nos suscita.

Observando (numa atitude passiva, mas cuidadosa) o nosso “Fórum de Discussão dos Casos” deparámo-nos, imediatamente, com uma realidade: estavávamos a anos-luz de ganhar passo e compasso em relação a tanta actividade! Em termos muito pragmáticos, este fórum teve 123 mensagens, agrupadas por 16 temas distintos, tendo alguns destes temas sido muito participados. Para além de uma leitura cuidada de todas as respostas, e mais preocupada com o conteúdo das discussões do que com a quantidade das mesmas (ainda que, inicialmente, isso tenha representado um “choque” em relação ao nosso atraso) foi, desde logo, perceptível uma conclusão: o tema “Melhorar a Qualidade da Aprendizagem e Reduzir Custos?” foi o mais participado, com 23 respostas ao repto inicialmente lançado pela Ana Lucas. Se houvesse interesse reflexivo em estabelecer um ranking das questões mais debatidas, em função do número de respostas, teríamos os temas alinhados da seguinte forma:
Ranking / Temas / N.º de Respostas
1.º Lugar - Melhorar a Qualidade da Aprendizagem e Reduzir Custos? - 23
2.º Lugar - “Ferramentas” utilizadas – Moodle e outras - 18
3.º Lugar - Reestruturação isolada de uma disciplina? - 15
4.º Lugar - Lições a retirar: Avaliação e “Feedback” - 13
5.º Lugar - Successful Projects e não Fully Successful Projects?; Bolonha e o Program in Course Redesign - 11

6.º Lugar - Aproveitar a experiência PCR: importância das parcerias - 5
7.º Lugar - Síntese de Reflexões e Ideias para o futuro - 4
8.º Lugar - CMU Introduction to Statistical Reasoning - 3
9.º Lugar - Fairfield University – Biologia Geral - 1
10.º Lugar - Conclusões e lições a retirar; Netforma-Vector 21.com – estilos de aprendizagem; Pocesso de Bolonha e o PCR: o Futuro é Hoje!; Florida Golf Coast Univ – Undestanding the Visual and Performing Arts; Questões específicas dos nossos contextos; Indicações para o desenvolvimento desta discussão - 0

Este exercício descritivo tem, porém, um propósito para nós: o de procurarmos entender quais foram as temáticas que mereceram mais reflexão por parte dos colegas, numa tentativa de (pós-) integração no debate havido. Assim sendo, a reflexão de seguida apresentada procurará, como antes dissemos, respeitar as orientações dadas mas, também, integrar o que foram os contributos dos colegas (verdadeiras ajudas preciosas para nós).
Apesar de termos estudado o caso da University of Central Florida – American National Government, um dos aspectos que podemos apontar como proveitosos, de todos os casos do Program in Course Redesign (PCR), prende-se, exactamente, com o tema mais discutido no nosso Fórum desta Actividade 4: melhorar a qualidade da aprendizagem e reduzir custos. No caso que estudámos, esses foram, também, dois dos objectivos que estiveram patentes no projecto de reestruturação do curso American National Government, entre outros. Como amplamente discutido no Fórum, concordamos com muitas das preocupações expressas:
Ainda que se tenha verificado, em quase todos os casos do PCR, uma melhoria da qualidade do ensino, expressa, nomeadamente, em taxas de sucesso dos alunos mais elevadas quando integrados nos cursos reestruturados, não quer isto dizer que haja, ou se possa estabelecer, uma relação de causa-efeito entre introdução de formas de virtualização e retenção de conhecimentos, apesar das taxas de sucesso escolar terem aumentado, como no caso que estudámos, em que se verificou um aumento da taxa média de sucesso de 78% para 85%. Mas como referiu a nossa querida colega Sandra Balão será que «se pode inferir, em absoluto, uma melhoria da qualidade do ensino…»? Na nossa modesta opinião, não, ainda que possamos considerar que, se houver uma tentativa de introduzir soluções de blended learning atinentes à identificação prévia de variáveis de modelos e práticas de aprendizagem/ensino, será mais “fácil” obter níveis de satisfação global mais elevados e, com isso, maior envolvimento dos estudantes e, consequentemente, mais empenho desejavelmente traduzido em maior capacidade de retenção de conhecimentos. Com isto pretendemos dizer que, na ponderação da introdução de modelos de virtualização, em substituição de modelos tradicionais de ensino (face-a-face / aulas presenciais), há que diagnosticar, fundamentalmente, dois aspectos: capacidades técnicas (equipamento informático e ferramentas disponíveis) e competências específicas (saber utilizar e escolher as ferramentas que melhor se adeqúem aos objectivos por unidade curricular). Esta foi precisamente uma das questões debatida pela Ana Paula Lebre: a de saber, de entre a diversidade de ferramentas online, como escolher e definir as ferramentas a utilizar. Felizmente, o nosso atento formador José Mota, rapidamente nos esclareceu sobre o “historial” das tecnologias open source, relevando a importância de, perante esta “dúvida”, preferencialmente, conciliarmos sistemas integrados institucionais (tipo Moodle, que permite um verdadeiro ambiente virtual de aprendizagem – VLE – Virtual Learning Environment) com outras ferramentas mais personalizadas (como os blogs ou os wiki). Não entrando na “polémica” debatida entre a Isabel Neto e o Henrique Ribeiro, sobre se as ferramentas são um meio para atingir um fim, ou o contrário, concordamos com a Susana Santos que, no seguimento do debate, disse que, de facto, as ferramentas «podem ajudar a vencer o espaço e a alcançar os nossos objectivos»; é tudo uma questão de Saber, sim, mas, sobretudo, de vontade de fazer! Aproveitamos para, nesta fase, agradecer o contributo da Isabel Neto que adicionou, na sua resposta, um “valioso” link com informação sumária, mas muito útil, dos passos sequenciais a adoptar na futura construção de e-actividades – obrigada! Prova de todo este empenho na melhoria da qualidade de ensino somos precisamente nós: continuamos a ser docentes (dar aulas), investigadores e formandos. E que reconfortante foi quando, a meio do debate sobre a importância das parcerias (já lá vamos, mais adiante), o José Mota salientou a importância das atitudes e comportamentos individuais.
Um outro aspecto amplamente debatido no nosso Fórum tem a ver com a possibilidade de “aproveitar” as experiências de reestruturação de uma disciplina e, de forma isomórfica, potenciar essas “tentativas iniciais” a um curso, ou a uma escola, até «porque as tentativas que fazemos e os erros que cometemos também ensinam muito caminho aos outros», como referiu o José Mota em resposta ao João Ventura, a 23 de Abril, já bem perto da meia noite… pensamos que esta é uma das “lições que podemos retirar”, não só das experiências do PCR, mas, também, deste nosso processo de aprendizagem contínua e progressiva, aqui, no nosso FIEL01. Quiçá, como referiu o Luís Carvalho, «os Blogues e os Wikis podem ser um 25 de Abril no modo de encararmos o futuro da educação superior, obviamente acompanhados de ferramentas institucionais consistentes como é o caso do Moodle», num post do Dia da Liberdade e dos três “D’s” – Democracia, Desenvolvimento e Descolonização! O potencial das ferramentas de virtualização é enorme e abre uma janela imensa para um novo mundo (ciber-mundo); compete-nos tomar conhecimento do que existe, seleccionar e adequar aos objectivos previamente definidos. De facto, o potencial de combinação de ferramentas é imenso, como referiram o Henrique Ribeiro, o Francisco Serdoura, o Luís Carvalho e o nosso formador José Mota, do qual nos apropriamos das seguintes palavras: «os blogs combinam bem no quadro da utilização de um conjunto de ferramentas quando se pretende uma reflexão ou maturação individuais que possam ser partilhadas entre todos. (…) Sendo uma forma de publicação muito individual e pessoal (…), que possibilita um diálogo global, num ritmo mais lento e reflectido do que as discussões, é muito adequado para os processos de reflexão sobre a aprendizagem em curso ou para a publicação de “trabalhos” (…), com a vantagem de permitir, através dos comentários, a partilha e/ou o diálogo entre todos (…)».
Muitas foram as “discussões” no nosso Fórum desta Actividade 4, mas porque o texto já vai longo, apelamos à nossa capacidade de síntese e reflictamos em torno das orientações inicialmente solicitadas...
A questão da melhoria da qualidade da aprendizagem/ensino e a redução de custos são, de facto, dois aspectos incontornáveis quando procuramos enquadrar a experiência deste Programa (PCR) nos nossos contextos específicos. Quase todas as nossas escolas vivem com este “peso” dos custos – de pessoal, imobiliário, informáticos, etc. Por isso, apostar em forma de virtualização parece-nos um bom passo para, em primeiro lugar, potenciar a qualidade das nossas prestações enquanto docentes, num quadro de desafios lançados quando da implementação do Processo de Bolonha, em segundo lugar, para se criarem verdadeiros ambientes virtuais de aprendizagem (introduzindo flexibilidade temporal e espacial) e, finalmente, mas não menos importante, para adoptarmos, congruentemente, uma cultura de aprendizagem permanente, pressupondo mais trabalho, é certo, quer por parte dos discentes, quer por parte dos docentes (e aqui realço o interessante debate havido sobre a ponderação no novo ECDU sobre a contabilização do tempo dispendido pelos docentes nestes novos moldes de ensino), mas visando, no final, aquilo que é verdadeiramente almejado por todos, como se pode aludir das discussões no nosso Fórum: melhor ensino, melhores docentes, melhores alunos e melhores serviços prestados à comunidade académica mas, também, à sociedade em geral, enquanto destinatária universal da nossa actividade: o ensino e a investigação aplicada!
Podemos estar a incorrer no risco de sermos não politicamente correcta, mas julgamos relevante reflectir sobre um facto: os docentes são uma classe profissional “difícil” de lidar. Estamos sempre dispostos a transmitir aos nossos alunos uma ideia que, sabiamente, o Prof. Doutor Adriano Moreira sempre veiculou: “a licenciatura é uma licença para aprender!”. Mas quantos são aqueles que se colocam numa atitude de “tudo sei” gerando, não raras vezes, entropia no sistema de ensino, com a adopção de posturas de resistência à mudança dos moldes em que durante anos leccionámos e ensinámos… Claro que o facto de sermos a primeira “geração” de docentes a adoptar uma atitude de “quero aprender mais” é um bom presságio para a alteração desta cultura, por vezes, de “imobilismo”. Neste sentido, destaco o contributo do João Ventura quando referiu que o principal objectivo deverá ser o de “fazer passar os estudantes de uma postura passiva, para uma postura activa, através da alteração dos métodos de ensino / aprendizagem», mas deixamos a questão: será que não deverão, também, alterar essa postura as instituições de ensino superior, nos moldes de ensino que oferecem aos seus “clientes” (alunos), e os próprios docentes?... Deixamos, de propósito, a questão por responder, até por que do novo ECDU decorrerão consequências a este nível. Todavia, fica a confiança que outros, como nós no curso FIEL01, adoptem uma atitude de verdadeira comunidade de aprendizagem e de cultura de Saber… sempre, cada vez mais!
Ainda ligada à questão dos custos, realçamos a importância da criação de parcerias, não apenas entre instituições de ensino superior, mas, sobretudo, com a sociedade e as empresas, para que o fruto do nosso trabalho não seja, apenas, para “consumo interno”; para que haja efectiva utilidade e aplicabilidade naquilo que fazemos – ensino activo, participado, gerador de capacidade crítica e analítica, potenciador de inovações e mudança. Como referiu a Isabel Neto, num post de 23 de Abril, tanto investimento de tempo e recursos (no planeamento e desenvolvimento de cada uma das actividades, citando os casos de Ohio – modelo “buffet” – e o de Carnegie Mellon – modelo de “suplemento”) sem parcerias institucionais sólidas, comprometem a continuidade e a sustentabilidade destes processos de remodelação. Fica-nos a esperança, como referiu a Isabel Neto, que esta experiência pioneira do FIEL01 possa vir a significar um primeiro passo para aquilo que apelidou de «culminar delicioso»; ficamos, também, com esse desígnio, até por que a importância e utilidade destas parcerias não se pode limitar a uma “estatística” de protocolos firmados com os mais diversos tipos de instituições, sejam académicas, públicas ou privadas, da sociedade civil ou até com empresas privadas.
Em relação a ideias para o futuro, subscrevemos inteiramento o que disse Isabel Neto no post de 26 de Abril, sobre o tema “Síntese de Reflexões e Ideias para o futuro”: temos que ser capazes de assumir um compromisso de «continuar a refinar para evoluir para melhor»! E é absolutamente verdade, quantas vezes minimizamos os pequenos passos que vamos dando… para nós, fica-nos a vontade de continuar a aprender muito do que não sabemos, desconhecemos, mas sempre guiadas por um objectivo maior: melhorar e aperfeiçoar o que fazemos, numa postura de “temos ainda muito para aprender”! Também nós começámos a reflexão sobre o que podemos alterar/melhorar quando estiver disponível no ISCSP uma plataforma que permita, de forma eficaz e eficiente, a criação das tais comunidades online de conhecimento:

  • Quais são os objectivos visados na unidade curricular?
  • Quais os conhecimentos prévios necessários?
  • Quais são os conhecimentos expectáveis serem adquiridos no final do semestre?
  • Que tipo de exercícios, actividades ou trabalhos podem ser realizados para consolidar a aquisição e melhoria de conhecimentos?
  • Que tipo de ferramentas utilizar em função das respostas encontradas para as perguntas anteriores?
  • Do que já se faz com os alunos, o que pode ser aperfeiçoado / melhorado?
  • Que tipo de exercícios utilizar para obter uma validação dos conhecimentos retidos?

A mudança é desejável e necessária; mas não há “bolas de cristal” (como referiu a Isabel Neto) que antevejam resultados óptimos. A solução?... Continuar, persistir e insistir!

Obs.: Podem consultar esta reflexão, em formato PDF, no "My Documents on Scribd".